Prefeito de Mariana, Duarte Eustáquio Gonçalves – Foto: Pedro Ferreira.
Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior, que não é candidato nestas eleições, publicou em suas redes sociais um texto que faz um retrospecto do que aconteceu após a tragédia e reforça a importância de se lembrar do dia 05 de novembro em respeito à memória de quem perdeu a vida na lama
Há exatos cinco anos, o Brasil e o mundo foram impactados pela triste notícia do rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, em Mariana, Minas Gerais. Às 16h20, do dia 05 de novembro de 2015, a barragem de Fundão derramou mais de 35 milhões de m³ de lama, mudando o curso da história da cidade e seus subdistritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, além de tantas outras comunidades.
A data se tornou um marco para o município, que passou a ser conhecido em todo o mundo, não só pelas suas riquezas históricas, naturais e gastronômicas, mas pela tragédia que assolou a sua população. Por isso, o Prefeito Duarte Eustáquio Gonçalves, que encerra o seu mandato neste ano e não é candidato nas próximas eleições, divulga um Manifesto, que registra os desafios enfrentados enquanto gestor municipal, as ações tomadas desde então pela Administração e uma homenagem às famílias que perderam entes queridos na lama.
Confira o Manifesto na íntegra:
MANIFESTO DE 05 DE NOVEMBRO
Na qualidade de Prefeito Municipal de Mariana e também no exercício do meu direito de cidadania, neste dia em que se reverencia a memória de todos os que perderam suas vidas e que também, com profunda tristeza, se relembra a maior tragédia ambiental do país, venho a público para registrar e dizer ao povo de Mariana e a todas as pessoas que tiverem acesso a este manifesto, um pouco da luta vivenciada, dia a dia, nestes 05 últimos anos.
O rompimento da barragem de Fundão não causou ruptura apenas das suas estruturas e o derramamento de lama e mortes. Causou, também, um grande hiato nas vidas de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, tantas outras Comunidades e, diretamente, também à Mariana.
A economia despencou; o desemprego alcançou níveis não experimentados anteriormente; a autoestima de muitos e muitos, desceu lama abaixo. A história saiu do seu curso e uma nova história passou a ser escrita. Quantas incertezas; quantos embates; quantas críticas; quantas desilusões…
A cidade, de repente, ficou mais conhecida no mundo todo, não mais por sua beleza histórica ou natural ou por seus artistas e seu povo, mas sim pela dor e pela lama que não parava de invadir rios, casas, escolas, córregos, fazendas, alterando a vida de comunidades inteiras.
No caminho da reconstrução, quantas e quantas adversidades! Como reconstruir a memória? Como recuperar o que a lama impiedosamente levou? Quais os limites e regras impostos ao Administrador Público?
Um Termo de Transação e Ajuste de Conduta – TTAC, defendendo os atingidos e os Municípios atingidos, sem dar voz aos atingidos e aos Municípios foi firmado nas esferas superiores. Transacionou-se em nome dos atingidos, em nome dos Municípios, mas estes não fizeram parte das discussões, dos ajustes e das transações. Uma enorme burocracia com isso instaurada… Regras impostas e tudo à mercê de poderes criados, numa gestão totalmente engessada e sem alternativas capazes de atender os anseios dos atingidos e as reparações e compensações dos Municípios no tempo exigido.
É este o caminho que os atingidos e os Municípios atingidos tiveram e têm que trilhar… Um caminho que se mostrou ineficaz desde o seu nascedouro e de elevadíssimo custo… Tanto ineficaz, que o mesmo modelo não foi, para felicidade de Brumadinho, lá aplicado.
Mariana e todos os demais Municípios impactados não tiveram voz e vez na discussão e concepção do TTAC. E isso não por inoperância dos Prefeitos ou das Câmaras Legislativas dos Municípios atingidos ou impactados, mas por determinação direta de poderes superiores.
Uma vez impostas as regras, tudo o que estava ao alcance de nossa Administração foi empreendido na busca de soluções, reparações e compensações. Uma verdadeira batalha a cada novo dia; reuniões e mais reuniões; insatisfações e enorme frustração. Muito pouco, mas muito pouco mesmo se conseguiu em comparação ao tamanho da destruição e de suas consequências.
Entretanto, é importante pautar conquistas com a imposição de medidas condicionantes e com aprovações de ações junto às esferas superiores de quem conduz os processos.
Um novo Bento Rodrigues e um novo Paracatu de Baixo estão sendo erguidos! Escolas próprias para as crianças de Paracatu de Baixo e Bento Rodrigues foram constituídas! O rio e nascentes em processo de recuperação! Comunidades nas áreas de influências e proximidades, beneficiadas com ações compensatórias e de preservação do patrimônio! Na cidade, a garantia do saneamento básico e a revitalização de um importante Centro de Convivência e a iniciação de outros projetos! Na Inglaterra, uma Ação Judicial que poderá garantir à Mariana, recursos vultosos que jamais seriam alcançados, não fosse a determinação de enfrentar os Tribunais Ingleses! Enfim, muitas ações cujas materializações serão conhecidas nos próximos anos!
O mais importante não é colher os frutos, mas ter feito o plantio! Tenho neste final de mandato, a consciência tranquila que dei o melhor de mim para deixar à Mariana muitas e muitas excelentes expectativas. Dizer agora, poderá parecer apenas especulação, mas com certeza a história será justa e registrará todos os benefícios que em breve nossa Cidade colherá!
Neste 05 de novembro de 2020, marco dos 05 anos do registro de uma dura história de Mariana, talvez a sua pior história, deixo a minha homenagem à memória de todos os que perderam a vida; de todos os que perderam suas casas; de todos os que perderam a história de suas vidas na fotografia da família desaparecida ou no altar, que não mais existe, de seu batismo ou de seu casamento.
Que apesar de tudo isso, não se perca a identidade de um povo forte e determinado!
Que Mariana possa continuar se reencontrando e sendo a “casa de todos nós”! Seja respeitada, conhecida e exaltada pelo poder de superação de sua gente e pela operosidade que envolve todos aqueles que verdadeiramente a amam!
Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior
Prefeito Municipal de Mariana05 anos da “Tragédia do Rompimento da Barragem de Fundão”
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